E Deus deve ter me feito no
vai-e-vem dos quatro ventos. Só isso explicaria a minha instabilidade,
minha falta de chão. Eu voo. Eu vou com o vento. É, eu sou
do tipo volúvel, ando mudando de lugar. Tudo bem, eu sei que ser meio
instável
não é lá uma característica das mais sublimes que alguém pode ter. Mas,
eu sou.
Talvez seja um dos meus lados errados ou talvez não esteja usando a
definição
certa ou talvez eu seja volúvel em um sentido mais leve da palavra. Eu
mudo
constantemente, ando me adaptando a mim mesma de vez em quando. Eu quero
demais,
não gosto de meios, entre duas metades há sempre um vácuo. Não gosto de
faltas,
não sei lidar com ausências, sou de tato. Quero muito e quero intenso,
vou pra
onde escuto o coração gritar – mais alto. Vou pra onde os braços são
mais
abertos e o abraço é ninho – que esquenta. Vou pra onde o sorriso é mais
largo
e os olhos brilham mais. É, eu sou do tipo volúvel, e isso não é falta
de
personalidade, é sobra, acredite. Apesar
de borboleta, apesar de efêmera feito uma flor de anêmona, meus amores
são de verdade
e, apesar de poucos, são intensos. Sou cara pro sol, sou vento nos
cabelos. Vou
mais pelo que sinto, atropelo o que vejo. Sou do tipo que parte, sem
nunca ter
chegado. E Deus deve ter me feito em
cima da corda bamba. Só isso explicaria meus passos miúdos, minha pressa
em
caminhar devagar. Eu vou e não importa se vou querer voltar, eu quebro a
cara
se for preciso. Eu me despedaço, eu me deixo despetalar. No fim eu me
refaço. E
recomeço. Sempre flor. Sempre inteira. Se isso tudo é ser volúvel, eu
sou. Se isso é defeito, eu
assumo. Vou mesmo contra a corrente, aprendi a ser teimosa. (Simone Oliveira)
Original em: http://www.adocecomlimao.com/2012/03/estrada-vai-alem-do-se-ve.html
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