Uma flor estendida no chão. As pétalas já meio murchas, pelo frio, pelo tempo, pela solidão. Algumas delas jaziam sozinhas, perdidas, espalhadas pela calçada. Um vermelho vivo cuja vida esvaía-se em sua cor. Ela parece triste hoje, mas ontem não. Ontem estava feliz e a rosa dançava entre seus dedos. Uma rosa roubada e estendida para si por outrem com um sorriso nos lábios. Uma rosa roubada do jardim e que roubou outra coisa de si que ela não sabia explicar. De mãos dadas, ambos transformaram a noite em algo doce e triste, ao mesmo tempo. Era o início e o fim caminhando lado a lado também. O início de algo bonito, mas proibido. E o fim de algo triste, mas doce.
A manhã trouxe um aperto sufocante na garganta, um aperto que corrói por dentro aos poucos. É uma falta de coisas que ela não viveu, uma saudade de outras que não voltarão, uma vontade de ter coisas que não pode. É um aperto que preenche mais uma manhã vazia, preenche de sentimentos que não preenchem. Saudade, vontade, tristeza, ondas de um nada sem sentido.
O pior não é estar triste. Pior mesmo é já ter sido feliz. É ter uma noite linda e, depois, encarar a manhã. E o amanhã. Difícil é voltar à rotina, depois de se perder numa noite de lembranças nebulosas. Mas ela sabe que passará, como tudo sempre passou pela sua vida. Intenso, rápido e devastador. A felicidade, a realidade e o vazio.
Na manhã seguinte já não será assim. Ela sabe. A vida seguirá em frente e as lembranças nebulosas serão deixadas na calçada como a rosa vermelha. E como tal se perderá no tempo. Até que outra rosa lhe traga outra noite, outras alegrias e tristezas.
Original em Pelos olhos de Morgana
Nenhum comentário:
Postar um comentário